quarta-feira, 10 de agosto de 2011

294 - Mortes anunciadas

Excesso de caminhões nas estradas, principalmente em trajetos longos, aumentam o risco  de acidentes
O doutor Arno Carrard, personalidade de grande visão e prestígio no Vale do Caí e no estado, é defensor da implantação da navegação entre o Vale do Cai e o porto de Rio Grande. Ele nos chamou a atenção para artigo do engenheiro e professor da UFRGS Alexandre Beluco. Com o título Mortes anunciadas, o professor alerta para os perigos do trânsito intenso de caminhões em estradas estreitas e deficientes e cita como exemplos a situação da estrada entre Porto Alegre e Peotas e da BR-116 na região metropolitana de Porto Alegre. Reproduzimos a conclusão do artigo:


"decisivamente, para evitar a continuidade desse panorama, é necessário incentivar o transporte ferroviário e hidroviário, e restringir os caminhões exclusivamente ao transporte de curta distância e, em determinados casos, de média distância."


Íntegra do texto publicado por Zero Hora:



MORTES ANUNCIADAS


ALEXANDRE BELUCCO, ENGENHEIRO CIVIL, PROFESSOR DA UFRGS - ZERO HORA 10/08/2011 


"Há algumas semanas, houve um acidente terrível na BR-290, no trecho que liga Porto Alegre a Pelotas. Um caminhão que fazia uma ultrapassagem chocou-se de frente com outro caminhão. Como resultado, duas mortes e muitos estragos a outros dois veículos. E não foi o único acidente desse tipo nos últimos meses; foi apenas o que mereceu maior atenção dos noticiários. 


A verdade é que cada vez mais as estradas têm sido frequentadas por veículos de vários tamanhos, desde automóveis pequenos e familiares até grandes e longos caminhões de carga. Em parte pelo maior número de veículos em circulação; em parte também pelos apagões aéreos dos últimos anos; e em parte, ainda, pelo próprio modelo de desenvolvimento brasileiro, alicerçado na indústria automobilística. 


Mas... por que um caminhão ultrapassava outro caminhão em uma estrada de pista única e mão dupla com tráfego tão intenso? 


Quem trafega por essa estrada com alguma fre- quência percebe um certo “assanhamento” de muitos motoristas por ultrapassagens, tornando qualquer viagem nesse trecho uma experiência muito cansativa. Os caminhões, em particular, que pelo desenvolvimento tecnológico dos últimos anos são mais ágeis e têm motores cada vez mais potentes, se envolvem muitas vezes em manobras de altíssimo risco. 


Quem observar a BR-116, por exemplo, que é a principal ligação entre Porto Alegre e a serra gaúcha, vai perceber que os caminhões têm contribuído decisivamente em várias situações de risco. E contribuem para a baixa velocidade média e os frequentes engarrafamentos verificados na região metropolitana de Porto Alegre. Ultrapassagens arriscadas e muitas vezes desnecessárias; uso da BR-116 para escapar de sinaleiras das vias de circulação municipais; circulação com carga em excesso e consequente baixa velocidade média; caminhões que, sem carga, parecem se transformar em carros de corrida. 


Enquanto nada for feito a respeito, esses acidentes terríveis seguirão acontecendo. E as mortes nesses acidentes são mortes já anunciadas. 


Em vários países, as ultrapassagens em determinadas rodovias são manobras proibidas para caminhões! 


Por outro lado, os motoristas em geral e os caminhoneiros em particular não podem ser “crucificados”. É certo que mais prudência e cuidado na condução dos veículos sempre contribuirão para mudar esse quadro. Mas, decisivamente, para evitar a continuidade desse panorama, é necessário incentivar os transportes ferroviário e hidroviário e restringir os caminhões apenas ao transporte de curta distância e, em determinados casos, de média distância."


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