Atraso nos pagamentos aos avicultores e falhas no fornecimento de ração motivam protestos contra a Doux
Matéria de Guilherme Baptista publicada no jornal Fato Novo (8/1/2011)
Não é de hoje que são veiculadas na imprensa várias notícias envolvendo a possível compra da Doux Frangosul. Maior indústria de Montenegro e da região, e um dos principais frigoríficos do Estado e do país, a Frangosul possui uma tradição de 40 anos no mercado. Além de Montenegro, conta com unidades em Caxias do Sul, Passo Fundo, Ana Rech, Nova Bassano e Caarapó (Mato Grosso do Sul).
De uma pequena granja de aviários na Esquina da Sorte, em Montenegro, surgiu através das famílias Wallauer e Müller uma das gigantes do setor no Brasil. Em 1998 a Frangosul foi adquirida pelo grupo francês Doux, um dos maiores do mundo. Atualmente a Doux Frangosul conta com cerca de 9 mil funcionários e três mil criadores integrados, entre frigoríficos, fábricas de ração, empanados, incubatórios e propriedades. Além do mercado brasileiro, exporta para 130 países. E tem uma grande importância na economia de Montenegro e da região. É a maior empregadora e a indústria que mais dá retorno de ICMS, principal fonte de recursos para o município investir em obras e melhorias. E também tem impulsionado a agricultura, através da construção de inúmeros aviários.
Especulações
A crise no setor de avicultura, onde tem se noticiado principalmente os atrasos no pagamento dos produtores de frangos e suínos, tem aumentado as especulações quanto a possível compra ou arrendamento da Doux Frangosul. Conforme o jornal Correio do Povo do último dia 24 de dezembro, o valor da operação poderia chegar a cerca de R$ 1 bilhão. Isso sem considerar a dívida, estimada em torno de R$ 400 milhões. A reportagem do Correio destacou que a Brasil Foods (BRF), uma das gigantes da indústria de alimentos por ser uma fusão da Sadia e Perdigão, teria feito uma sondagem junto à direção da Doux.
De acordo com a matéria do Correio do Povo, uma tentativa de captação de recursos externos teria fracassado, o que aumentou a crise. Em 2009 a empresa teve uma receita bruta de R$ 1,7 bilhão, o que representou uma queda de 12,2% em relação ao ano anterior. O balanço de 2010 ainda não foi divulgado.
O Jornal do Comércio, também da capital, destacou em sua capa da última quarta-feira o título “Doux está na mira de grandes frigoríficos”. De acordo com a reportagem, além da BRF, outros interessados na compra seriam a JBS Friboi e o Marfrig. Em 2009 o Marfrig já comprou a unidade de perus da Doux em Caxias do Sul, num investimento de R$ 65 milhões. E em 2008 a Perdigão teria oferecido cerca de R$ 900 milhões pela compra da Doux Frangosul.
Para o presidente da União Brasileira de Avicultura (Ubabef), o gaúcho Francisco Turra, somente a venda da empresa com sede em Montenegro poderá sanar a crise. Turra entende que a compra da Doux Frangosul significaria um bom negócio, por se tratar de uma empresa bem estruturada no Estado. Ele cita que durante uma feira na França conversou com o presidente da empresa, Charles Doux, e protestou quanto ao fato de ter chegado ao ponto de animais morrerem por falta de ração. “Ele me garantiu que corria atrás de uma operação para salvar a empresa e que buscou uma parceria internacional, mas não deu certo e a situação só piorou”, lamentou.
Para Turra, o bom momento do mercado pode servir de incentivo para que a negociação de empresas com a Doux se acelere.
Conforme a reportagem do Jornal do Comércio, a empresa é bastante atraente em razão da qualidade do quadro funcional e sua tradição no mercado. Entretanto, segundo um consultor, a compra é dificultada porque a Doux estaria exigindo a aquisição também das unidades estrangeiras do grupo, que não seriam tão interessantes em termos de mercado.
A direção da Doux não se manifesta sobre as especulações da possível venda da empresa. As dificuldades financeiras da empresa ainda seriam reflexo da crise mundial, desvalorização do dólar frente ao real e redução das importações. De acordo com a reportagem do Jornal do Comércio, a Doux já teria fechado unidades em Portugal, Espanha e Estados Unidos, além de reduzir a produção na Alemanha. A maior dificuldade seria no fornecimento de milho para ração, o que corresponde a 75% do custo de produção, além do alto custo da mão de obra.
Conforme o deputado estadual Paulo Azeredo (PDT), que esteve em reunião com a direção da Doux Frangosul na última quinta-feira, a venda da empresa está descartada. “Não passam de especulações”, teria comentado o diretor Aristides Vogt. A direção da empresa já esteve reunida com o novo Governo do Estado e Azeredo se propôs a marcar uma reunião também com o Governo Federal.